Erasmo Portavoz

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Antes de partir

Eu vou mudar o mundo inteiro
Bombardear todas as guerras
Tirar a fome do cardápio infantil
Discutir as ideias absolutas
Mas é tão difícil fazer sozinho

Então vou mudar minha nação
Proteger o verde da Amazônia
Desviar o jeitinho pra longe daqui
Eleger apenas um ficha limpa
Mas eu não tenho muitos aliados

Acho melhor mudar essa cidade
Promover a memória coletiva
Caminhar sem apagar o rastro
Crescer e conhecer o progresso
Mas ela é tão incapaz de perceber

Por isso vou mudar a mim mesmo
Então, vou pescar algumas letras
Cruzar os braços ao meu corpo
Calar minhas palavras engajadas
Ou então, mudar de opinião.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Viagem ao centro do homem

Quem é você, seu homem?
Ainda não sabe o que fazer, o que ser
Vive procurando encontrar necessidades
Causando conflitos da alma
Enganando a si mesmo por poder
Fingindo que nunca vai morrer

Mas quem é você, seu homem?
Você que acorda tarde por causa dos sonhos
Mas se desengana pela realidade
Não existe um instante que não deseje
O que te leva a crer é a dor
O que te leva a existir é teu consumo

Mas quem é você, seu homem?
Conquistou o mundo e não se conheceu
Destruiu o próprio ninho de morada
Caminhou e apagou seu rastro
Comeu até matar alguém de fome
Maquiou-se de hipocrisia mórbida

Mas quem é você, seu homem?
Tu és humano demais pra ser animal
Pequeno demais pra ser um deus
Inútil demais pra ser necessário
Sujo demais para brilhar no breu
Egoísta demais pra admitir tudo isso

sexta-feira, 14 de março de 2014

Um motivo, poesia

Qual o motivo de uma paixão?
De alguém que marcou tanto
De um perfume de pele macia
Que pousa no interior da mente
E mantem o motivo de viver

Qual o motivo de um tempo bom?
De um momento inesquecível
De uma história de fantasia
Que marcou um pedaço da vida
E preserva o já esquecido

Qual o motivo de uma sentença?
De uma cicatriz não fechada
De uma culpa insuperável
Que marca profundamente
E revela as rotas equivocadas

Qual o motivo de uma infância?
De um brinquedo quebrado
De um amigo que não cresceu
Que insiste em brincar na rua
E jovem demais para morrer, jaz

Qual o motivo de uma poesia?
De um verso branco ou com rima
De uma estrofe as vezes, engajada
E que monta um pequeno poema
Motivo da vida de um poeta 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A caminho do inferno

Tenha cuidado com os teus atos
E teus pensamentos contaminados
Eles podem te levar ao inferno
Talvez tenha uma única chance
De se livrar do fogo que consome
Pois no dia do juízo final
Você pode se arrepender de tudo

Dos amores que conquistou
Das festas em que se divertiu
Da casa mobilhada que comprou
Da fome que todos os dias matou
Das mentiras pra fugir da realidade
Do egoísmo que te isolou do mundo
Até dos beijos que roubou

Mas não pode fugir de suas verdades
De sua consciência livre
De seus desejos mais obscuros
De sua vontade de ser mero humano
Ou exorbitantemente, humano
É por essa e tantas outras coisas
Que tu estás condenado ao fogo eterno

Seja bem vindo ao meu lar!
Recebo-te de braços abertos
Afinal eu sou teu conhecimento
O dono da árvore no meio do jardim
Que tu por sagacidade comestes o fruto
E agora foge de mim e do destino
De morrer e ficar perambulando

Mas não se preocupe meu caro
Aqui não existem regras
Pois quem as criou para julgar
Nunca teve a intenção de cumpri-las
Na verdade eles são os meus seguidores
Meus defensores conscientes
Que entorpecem pra te levar mais fácil

Não se preocupe meu caro
Aqui seus líderes discutem carnaval
E abdicam um lugar ao sol
Tudo isso é o preço de ser livre
Aqui também tem música boa
E seus ídolos se apresentam
Enquanto a plateia fica eufórica

Pena que não pode ficar na primeira fila
Pois ela tem lugar cativo
Para os sacerdotes do fracasso
Para os militantes partidários
Para os fanáticos ideológicos
E para os negadores do senhor
Mas pra você eu guardei o último lugar

Pois você é um poeta
Amante da arte e do lirismo
Que contempla o abismo imaginário
E traz do real para o papel
Em rabiscos estreitos e sem tom
A poesia que te faz tão bem
E te liberta de todo o mal

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O senhor

O tempo é nosso inimigo
Ele aflora nossa saudade
Apaga um amor antigo 
Derruba até a vaidade
Os valores de um tempo 
A cicatriz do coração em pranto
Uma dor que te provoca choro

Esse tal senhor tempo
Muda a cor das paisagens
Mostra desejo escondido
Vela mesmo o sentimento
Mas declara ansiedade
Com Ele, o tempo perdido
Parece não ter mais jeito 

É senhor de todo o sempre
O mais poderoso dos deuses 
Sua lei, uma certeza
Seu poder, ninguém supera
Nem o maior de todos os homens
Nem a própria natureza
Essa, firme em seus propósitos