Erasmo Portavoz

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Viagem ao centro do homem

Quem é você, seu homem?
Ainda não sabe o que fazer, o que ser
Vive procurando encontrar necessidades
Causando conflitos da alma
Enganando a si mesmo por poder
Fingindo que nunca vai morrer

Mas quem é você, seu homem?
Você que acorda tarde por causa dos sonhos
Mas se desengana pela realidade
Não existe um instante que não deseje
O que te leva a crer é a dor
O que te leva a existir é teu consumo

Mas quem é você, seu homem?
Conquistou o mundo e não se conheceu
Destruiu o próprio ninho de morada
Caminhou e apagou seu rastro
Comeu até matar alguém de fome
Maquiou-se de hipocrisia mórbida

Mas quem é você, seu homem?
Tu és humano demais pra ser animal
Pequeno demais pra ser um deus
Inútil demais pra ser necessário
Sujo demais para brilhar no breu
Egoísta demais pra admitir tudo isso

sexta-feira, 14 de março de 2014

Um motivo, poesia

Qual o motivo de uma paixão?
De alguém que marcou tanto
De um perfume de pele macia
Que pousa no interior da mente
E mantem o motivo de viver

Qual o motivo de um tempo bom?
De um momento inesquecível
De uma história de fantasia
Que marcou um pedaço da vida
E preserva o já esquecido

Qual o motivo de uma sentença?
De uma cicatriz não fechada
De uma culpa insuperável
Que marca profundamente
E revela as rotas equivocadas

Qual o motivo de uma infância?
De um brinquedo quebrado
De um amigo que não cresceu
Que insiste em brincar na rua
E jovem demais para morrer, jaz

Qual o motivo de uma poesia?
De um verso branco ou com rima
De uma estrofe as vezes, engajada
E que monta um pequeno poema
Motivo da vida de um poeta 

sexta-feira, 7 de março de 2014

A caminho do inferno

Tenha cuidado com os teus atos
E teus pensamentos contaminados
Eles podem te levar ao inferno
Talvez tenha uma única chance
De se livrar do fogo que consome
Pois no dia do juízo final
Você pode se arrepender de tudo

Dos amores que conquistou
Das festas em que se divertiu
Da casa mobilhada que comprou
Da fome que todos os dias matou
Das mentiras pra fugir da realidade
Do egoísmo que te isolou do mundo
Até dos beijos que roubou

Mas não pode fugir de suas verdades
De sua consciência livre
De seus desejos mais obscuros
De sua vontade de ser mero humano
Ou exorbitantemente, humano
É por essa e tantas outras coisas
Que tu estás condenado ao fogo eterno

Seja bem vindo ao meu lar!
Recebo-te de braços abertos
Afinal eu sou teu conhecimento
O dono da árvore no meio do jardim
Que tu por sagacidade comestes o fruto
E agora foge de mim e do destino
De morrer e ficar perambulando

Mas não se preocupe meu caro
Aqui não existem regras
Pois quem as criou para julgar
Nunca teve a intenção de cumpri-las
Na verdade eles são os meus seguidores
Meus defensores conscientes
Que entorpecem pra te levar mais fácil

Não se preocupe meu caro
Aqui seus líderes discutem carnaval
E abdicam um lugar ao sol
Tudo isso é o preço de ser livre
Aqui também tem música boa
E seus ídolos se apresentam
Enquanto a plateia fica eufórica

Pena que não pode ficar na primeira fila
Pois ela tem lugar cativo
Para os sacerdotes do fracasso
Para os militantes partidários
Para os fanáticos ideológicos
E para os negadores do senhor
Mas pra você eu guardei o último lugar

Pois você é um poeta
Amante da arte e do lirismo
Que contempla o abismo imaginário
E traz do real para o papel
Em rabiscos estreitos e sem tom
A poesia que te faz tão bem
E te liberta de todo o mal

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

O senhor

O tempo é nosso inimigo
Ele aflora nossa saudade
Apaga um amor antigo 
Derruba até a vaidade
Os valores de um tempo 
A cicatriz do coração em pranto
Uma dor que te provoca choro

Esse tal senhor tempo
Muda a cor das paisagens
Mostra desejo escondido
Vela mesmo o sentimento
Mas declara ansiedade
Com Ele, o tempo perdido
Parece não ter mais jeito 

É senhor de todo o sempre
O mais poderoso dos deuses 
Sua lei, uma certeza
Seu poder, ninguém supera
Nem o maior de todos os homens
Nem a própria natureza
Essa, firme em seus propósitos

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

As coisas que ninguém viu

Existiam coisas que ninguém viu
Ninguém viu o mundo de fantasias
As fantasias de carnaval
Carnaval é festa no Brasil
O Brasil de norte a sul de anil
O anil do céu de aquarela
Aquarela de flores do agreste
O agreste dos cabras da peste

Existiam dores de agonia
Agonia de puro sangue vermelho
O vermelho das revoluções
Revoluções a cada dia
A cada dia e noite a guerra fria
A fria temperatura de nossa mente
A mente controla a sabedoria
A sabedoria dos inocentes

A vida é mais que fantasia
É a maior fonte de energia
De um poeta que aprendeu a amar
Amar é libertar-se
Doar-se
E dar liberdade

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A morte da velha "Patrimônia"

De repente, nada
E tudo que presenciou, virou escombros
Os casais que trocaram carícias
Os moleques que brincavam ao seu redor
Os encontros de artes
O vendedor de churrasco
E o pipoqueiro também

Sem contar com o jardineiro
E os moradores de rua, estrelas invisíveis
Sem contar com o seu corpo
Que tinha marcas que simbolizava o nosso alimento
E apesar de envelhecido, fruto da experiência
Servia de apoio para os pés inquietos

Só de olhar já sabia
Que sua vida se confundia
Com a história de seu lugar
Mas o tempo foi cruel coma aquela velha senhora
E ela se tornou um obstáculo
Uma pedra no caminho

Foi então que tudo desmoronou
O que antes era belo, se tornou velho demais pra existir
As marcas do corpo não simbolizavam mais o alimento
[Pois este virou enlatado
Não abrigava mais ninguém, todos têm uma casa agora
O jardineiro foi dispensado, não há mais árvores
O vendedor mudou de esquina
Os artistas foram pescar
Os moleques estão sentados no bar da esquina
Os casais fazem amor virtual

Em nome de um mundo novo
Sua morte foi decretada
Os amigos viraram carrascos
E seu corpo foi decapitado pelas máquinas ferozes
Sua história foi silenciada pelo barulho da ignorância
Sua memória foi apagada pela borracha do futuro
Seu corpo foi enterrado e nem um epitáfio ficou
É minha senhora, não há mais nada
Só o choro de um velório eterno

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Seu Pensamento

Estou parado na esquina esperando o próximo vento
Tentando talvez não parecer moldado
Adaptado pela voz silenciosa de um discurso poderoso
Mas enquanto eu estou aqui parado
Os espíritos livres fazem valer viver
Mas eu continuo parado sem me mexer
Me preparando pra...
Deixar a caravana passar e seguir latindo
Fingindo ter postura de cão bravo
Assustado com os gritos de guerra
Com os disparos e a cavalaria
Farejando o cheiro dos gases oficiais
Mas eu continuou aqui parado
E parado vou ficando, só falo se alguém mandar
Mesmo assim, eu destruo tudo por dentro
Tentando adquirir forças pra caminhar
Mas eu tenho medo do primeiro passo
Queria poder, queria fazer e assim ser
E de queria em queria, continuo parado
Mas eu me sinto seguro
Afinal de contas eu não sofro com o perigo
Pois estou sempre quieto
Apesar de discursar no banheiro
Desta forma já mudei o mundo e exterminei todo o mal
Mas na verdade eu não represento muita coisa
Quando eu morrer nem vão sentir minha falta
Só minha família, no dia do velório
No outro já estarão brigando pelo meu nada
Pois nada tenho e nada sou
Só tenho mesmo muita vontade, mas nunca digo pra ninguém
E assim, parado, querendo e torcendo, vou vivendo
Vivendo de camarote e reclamando da sorte
Vida pacata e sossegada essa minha
Por isso pareço sempre contente e radiante
Me sinto o ser mais perfeito do mundo
Por isso não me julgue, neste caso eu viro um leão
Muito prazer, eu me chamo Pensamento Filho da Puta
Mas pode me chamar de Seu Pensamento