Erasmo Portavoz

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

A morte da velha "Patrimônia"

De repente, nada
E tudo que presenciou, virou escombros
Os casais que trocaram carícias
Os moleques que brincavam ao seu redor
Os encontros de artes
O vendedor de churrasco
E o pipoqueiro também

Sem contar com o jardineiro
E os moradores de rua, estrelas invisíveis
Sem contar com o seu corpo
Que tinha marcas que simbolizava o nosso alimento
E apesar de envelhecido, fruto da experiência
Servia de apoio para os pés inquietos

Só de olhar já sabia
Que sua vida se confundia
Com a história de seu lugar
Mas o tempo foi cruel coma aquela velha senhora
E ela se tornou um obstáculo
Uma pedra no caminho

Foi então que tudo desmoronou
O que antes era belo, se tornou velho demais pra existir
As marcas do corpo não simbolizavam mais o alimento
[Pois este virou enlatado
Não abrigava mais ninguém, todos têm uma casa agora
O jardineiro foi dispensado, não há mais árvores
O vendedor mudou de esquina
Os artistas foram pescar
Os moleques estão sentados no bar da esquina
Os casais fazem amor virtual

Em nome de um mundo novo
Sua morte foi decretada
Os amigos viraram carrascos
E seu corpo foi decapitado pelas máquinas ferozes
Sua história foi silenciada pelo barulho da ignorância
Sua memória foi apagada pela borracha do futuro
Seu corpo foi enterrado e nem um epitáfio ficou
É minha senhora, não há mais nada
Só o choro de um velório eterno

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